Um carnaval nu é aquele que democratiza completamente uma sociedade hierarquizada – especialmente em um país gigante como o Brasil em que tudo é possível também por excesso de espaço. Piadas à parte na rotina do dia a dia toda a gente tem um lugar, um papel social. Mas e no carnaval? Sair do lugar parece ser uma experiência apetecível. E se sair do lugar nu, ainda que por um metro ou dois?

A polémica em nudez: o carnaval nu, samba ainda mais sensual?

Bomba manual em plástico para encher balõesOnde se esconde, ou mostra, a beleza do carnaval? São muitas as opiniões que se dividem entre a ostentação do luxo das fantasias e das máscaras carnavalescas, dos carros alegóricos e de todos os adereços alusivos a esta quadra e a nudez feminina, os encantos da mulher despida, sensualidade à flor dos olhos. Acaba por ser uma espécie de culto a dureza a que estas mulheres sujeitam o corpo para que possam exibi-lo no sambódromo e nas ruas do gigante Brasil.

É, igualmente, esta exibição, um orgulho para as mulheres que passam o ano inteiro a pensar no carnaval nu e, para isso, moldam os seus corpos como se de barro pintado para vender se tratasse. Na verdade é como se houvesse, e há, pecado capital em carnes flácidas ou com estrias no carnaval nu aquando dos desfiles. Porque na mesma verdade cabe uma indústria da boa forma.

O samba faz-se sentir e os tapa sexos coram de orgulho no carnaval do Brasil: será mesmo mais sensual a nu do que com fantasia?

Indústria da boa forma exige uma pergunta bastante pouco retórica por implicar, de facto, competição: quem tem o rabo – ou apliquemos a designação nativa – o bumbum mais gostoso?

É certo que a indústria da boa forma assume uma particularidade contemporânea. Mas será sinónimo, o carnaval nu – por si alimentada -, de vulgaridade? Não: no Brasil, a nudez no carnaval faz parelha com o brilho do samba e das fantasias exuberantes que vão passando no sambódromo.

E fala-se em carnaval nu contemporâneo porque em inícios do século passado seria impensável – já que estávamos perante uma sociedade completamente conservadora e patriarcal onde os corpos femininos eram controlados e tapados. Terá sido na década de sessenta que a exposição da nudez feminina viria a romper no Brasil.

Citada como o exemplo mais profundo desta ruptura que viria a influenciar fortemente o carnaval nu, pela sua difusão cultural, é a revista O Cruzeiro – vocacionada para o público da classe média e alta com o objectivo de lançar uma nova mulher: a mulher moderna carregada de novos hábitos e novas ideias estimuladas pela tal indústria da boa forma.

Na origem do carnaval nu estará, pois, o discurso de liberdade e modernidade ao mesmo tempo que a viria a encarcerar e escravizar a mulher em um modelo de beleza quase inalcançável.

Importa salientar que o carnaval – nu ou vestido – faz parte de uma verdade com que se cobre o Brasil e o mundo: a verdade de uma festa que democratiza a existência humana quando a liga com uma celebração que faz com que o Homem saia, efectivamente, do seu lugar.

Tenha acesso a toda a informação sobre o carnaval nu, ou vestido, no site da loja Misterius.